Enquanto
tu toma um café aí na porta, parado, eu mexo no celular e vejo nós dois em todas
as fotos dos lugares legais que fotógrafos que viajam o mundo e passam horas
esperando pelo pôr do sol perfeito, após tratar as fotos, as publicam para que
pessoas como eu, vejam e imaginem nós dois. Talvez não pessoas como eu. E
talvez não depois de ouvir um desagrado. Talvez não enquanto meu cérebro tenta
me alertar. Mas talvez sim, enquanto meu coração põe as mãos nos ouvidos e grita
lá lá lá lá muito alto para não ouvir uma palavra do cérebro que tenta traçar
um quadro realista ao argumentar que eu deveria desistir. Mas eu falava das
fotos. E te vejo lá comigo e sinto teu sorriso na minha boca em toda parte. Acho
que o que eu ia dizer no começo é que da forma como nós dois conduzimos nossas
vidas hoje, a gente não vai pra lugar nenhum. Não geograficamente. Não juntos. Um
amor permeado de teimosias está longe de ser o ideal. Mas quem porra liga para
o ideal? Acho que tá errado. Um amor que vem de um abraço parece, sim, ser o
ideal. É perfeito. Acho que quando peguei a caneta era sobre um homem de pé em uma porta, amargurado,
tomando um café sem açúcar, já que combina mais com a amargura de uma manhã
chuvosa de inverno que, claro, poderia combinar com amor. Mas... Aí a mulher veria fotos de lugares lindos e
pensaria nos dois. Mas com raiva por estar chateada. Aí ele pergunta se ela vai
mesmo ficar com aquela cara e ela tenta explicar que estava pensando em um
texto. De um cara de pé na porta, tomando café e de uma mulher chateada mexendo
no celular. Mas ele não gosta do fato de a mulher estar chateada e aquilo se
perde do mais importante: nós dois juntos, na praia, esperando a noite cair,
olhando nos olhos sem precisar desviar porque no fundo a gente não queria se
magoar. Ou talvez, a parte de como a gente vem conduzindo a vida da gente seja
importante. Não sei. Parece que termina com quinze minutos de carro até a casa
dela, em silêncio, com a chuva batendo no para-brisas. Com o coração gritando
lá lá lá lá mais baixo.
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