2 de agosto de 2019

Vida, pisa devagar...


Enquanto tu toma um café aí na porta, parado, eu mexo no celular e vejo nós dois em todas as fotos dos lugares legais que fotógrafos que viajam o mundo e passam horas esperando pelo pôr do sol perfeito, após tratar as fotos, as publicam para que pessoas como eu, vejam e imaginem nós dois. Talvez não pessoas como eu. E talvez não depois de ouvir um desagrado. Talvez não enquanto meu cérebro tenta me alertar. Mas talvez sim, enquanto meu coração põe as mãos nos ouvidos e grita lá lá lá lá muito alto para não ouvir uma palavra do cérebro que tenta traçar um quadro realista ao argumentar que eu deveria desistir. Mas eu falava das fotos. E te vejo lá comigo e sinto teu sorriso na minha boca em toda parte. Acho que o que eu ia dizer no começo é que da forma como nós dois conduzimos nossas vidas hoje, a gente não vai pra lugar nenhum. Não geograficamente. Não juntos. Um amor permeado de teimosias está longe de ser o ideal. Mas quem porra liga para o ideal? Acho que tá errado. Um amor que vem de um abraço parece, sim, ser o ideal. É perfeito. Acho que quando peguei a caneta era sobre um homem de pé em uma porta, amargurado, tomando um café sem açúcar, já que combina mais com a amargura de uma manhã chuvosa de inverno que, claro, poderia combinar com amor. Mas...  Aí a mulher veria fotos de lugares lindos e pensaria nos dois. Mas com raiva por estar chateada. Aí ele pergunta se ela vai mesmo ficar com aquela cara e ela tenta explicar que estava pensando em um texto. De um cara de pé na porta, tomando café e de uma mulher chateada mexendo no celular. Mas ele não gosta do fato de a mulher estar chateada e aquilo se perde do mais importante: nós dois juntos, na praia, esperando a noite cair, olhando nos olhos sem precisar desviar porque no fundo a gente não queria se magoar. Ou talvez, a parte de como a gente vem conduzindo a vida da gente seja importante. Não sei. Parece que termina com quinze minutos de carro até a casa dela, em silêncio, com a chuva batendo no para-brisas. Com o coração gritando lá lá lá lá mais baixo.

27 de maio de 2019

Do inferno

Alguém que seja boa companhia, um bom papo, bom amigo para conversas cafés sem açúcar. 
Que tenha tantas afinidades quanto diferenças e se espante tanto quanto eu com mapas astrológicos simétricos.
Uma pessoa que se encaixe no meu corpo acordada, dormindo, só de mãos dadas ou com nenhuma roupa.

Principalmente.
Principalmente, alguém que beije como nenhuma outra criatura da terra. 

Mantenha-se longe.

Agora, se você for do tipo atencioso e que não desperta insônia, que cumpre promessas simples, que não me queime juízo ou a alma, que não desperte nenhum sonho e, principalmente. 

Principalmente, que me beije como um mero mortal.

Me chama pra um trelelê, cinema, conversa. Tomamos algo juntos. Suco, sorvete, banho... 

Sonhar acordada? Não, obrigada.

16/01/19
O tempo estava infernalmente quente.
Ele, infernalmente gélido.