23 de agosto de 2011

À procura da felicidade

Ela adorava ler as revistas de dois anos trás compradas no sebo. Sabia tudo sobre as celebridades. Os produtos para celulite, maquiagens, férias luxuosas, traições, lançamentos de produtos e tudo o mais que fosse inalcançável para ela. Lancôme, MAC, Ilha de Caras, separações, tudo isso era muito mais interessante do que sua vida de geladeira vazia, noites em filas de hospital seguidas de dias mendigando para a compra do remédio. 
Depois de não ter dinheiro para enterrar o filho, decidiu que isto tinha que acabar. Trocou sua geladeira velha por uma TV tão mais ou quanto e passou a viver das imagens da vida alheia, das personagens com finais pre-definidos cujos atores dariam vidas a outros na próxima novela das seis, das alegrias de Ipanema, de imitar os sotaques nordestinos, de dar bom dia à Ana Maria Braga.


Hoje ela vive nas ruas chamando mendigos para cheirarem seus cabelos lavados com Kerástase, ensina receitas às senhoras nas paradas de ônibus, canta temas de novelas, recomenda que velhinhos procurem o Boston Medical, explica para as mocinhas que não se combina mais sapatos com bolsa e sorri feliz, sem saber seu nome, sua idade, sua (triste) história.

5 comentários:

Ellis Regina (Lis) disse...

encontrou, enfim, sua felicidade. quem vai dizer o contrário?!

M.M. disse...

Eu ia dizer que amo sebos e ainda os amo, mas não para revistas! ;)
É o típico e perfeito retrato da atualidade. As pessoas preferem se drogar - seja com drogas, com TV ou com a vida alheia - para não enxergar que a vida delas é que precisa de mudança.
Mais fácil viver de ilusão? Pode até ser. Mas "só de" não dura.

MeninaMisteriosa

Andrew Clímaco disse...

Felicidade no fim de tudo.
Estou seguindo. Procurando, procurando. Nunca desisto. Mas às vezes para que ser feliz é aprender a ser triste. Não sei onde fica, mas eu vou vou vou...
Infelizmente, não tenho essa sorte.

Anderson disse...

Felicidade não é diet.
-Dáieti uma porra!
Feliz aniversário, com açúcar e tudo.

Aida Polimeni disse...

Já li esse texto umas 10 vezes. Gosto tanto dele :)