23 de agosto de 2011

À procura da felicidade

Ela adorava ler as revistas de dois anos trás compradas no sebo. Sabia tudo sobre as celebridades. Os produtos para celulite, maquiagens, férias luxuosas, traições, lançamentos de produtos e tudo o mais que fosse inalcançável para ela. Lancôme, MAC, Ilha de Caras, separações, tudo isso era muito mais interessante do que sua vida de geladeira vazia, noites em filas de hospital seguidas de dias mendigando para a compra do remédio. 
Depois de não ter dinheiro para enterrar o filho, decidiu que isto tinha que acabar. Trocou sua geladeira velha por uma TV tão mais ou quanto e passou a viver das imagens da vida alheia, das personagens com finais pre-definidos cujos atores dariam vidas a outros na próxima novela das seis, das alegrias de Ipanema, de imitar os sotaques nordestinos, de dar bom dia à Ana Maria Braga.


Hoje ela vive nas ruas chamando mendigos para cheirarem seus cabelos lavados com Kerástase, ensina receitas às senhoras nas paradas de ônibus, canta temas de novelas, recomenda que velhinhos procurem o Boston Medical, explica para as mocinhas que não se combina mais sapatos com bolsa e sorri feliz, sem saber seu nome, sua idade, sua (triste) história.

20 de agosto de 2011

Diálogos horríveis III

Conversas entre 1 e 2. 
1 é minha prima de quatro anos. 2, a pessoa que vos escreve...

Primeiro ato

1 - Eu não gosto de criança morta toda ensanguentada...
2 - !
1 - Tu gosta?
2 - !?!?
1 - Tu queria ver tua filha morta toda ensanguentada?
2 - ??!!

Segundo ato
(Brincando de casinha)

1 - MARIDO!!!! Acorda e vai já trabalhar!! (aos gritos, claro...)
2 - Paloma, fala com carinho com o marido. Trata ele com carinho...
1 - Não porque ele é muito chato!
2 - E porque tu não separa dele?
1 - Porque a gente só tem uma casa pra morar, daí a gente tem que morar junto...
(Silêncio...)
2 - E os filhos de vocês?
1 - "Morrero" atropelado!!
2 - =O

Juro que foi assim, com todas as vírgulas...

1 de agosto de 2011

Descabelada e Assanhada...



Deixo a tua cama com a cara e os cabelos assanhados, correndo (maldita trepadinha da manhã pra atrasar para o trabalho) para uma chuveirada rápida.

- que tipo de homem não tem um pente em casa?
- do tipo que não penteia o cabelo!!!

Te beijo apressada.
Enquanto atravesso a rua, com a bunda ainda ardendo pelo último tapa, as pernas ainda trêmulas, tentando me equilibrar no salto, os cabelos ainda assanhados, penso quando (ou se) você vai me ligar novamente.
E a bolsa começa a vibrar, vasculho nervosa (porque mulher carrega tanta coisa?) e... Decepção.
Não é você...

- Oi, amor!